“Velho”!
Era assim que alguns de nós te chamávamos de há muito tempo…
Não sei porquê!
Pois se tu até eras o mais novo…!
Foste-te embora…
Acabou-se esse sofrimento que suportavas, para ti … em silêncio…
Se calhar, era demais…
Exames, tratamentos, ligeiras melhoras e recaídas, …mais hospital, …mais casa…
Sem saíres… porque … te cansavas demasiado …e estava frio…
Era um beco sem saída, embora todos quiséssemos um milagre…
E tu também ,… mesmo não sendo religioso…
Nunca gostaste de perder…nem a feijões…
Mas, sem trunfos, sem ases, nem sequer biscas… como poderias ganhar ???
E não era um jogo de sueca, que por fim, até aprendeste a jogar na internet…
Sempre foste teimoso que nem um burro !!!
Infelizmente, desta vez a teimosia, não te ajudou…
Mas eras magnânimo com todos…, amigos ou conhecidos…
Com quem é que agora falamos, se precisarmos de um contacto ???
Já não tens que te preocupar…
Cá nos havemos de arranjar, menos bem, sem os teus números de telemóvel…
Não gostámos nada de te ver partir…
Para onde quer que estejas vai um grande abraço, … apertado, como aqueles que só os amigos sabem dar…
Descansa em paz…
Jorge Morgado
30 de Janeiro de 2017 ( Nabais faleceu a 29 de Janeiro de 2017)
Café Granada
quarta-feira, 1 de março de 2017
segunda-feira, 27 de julho de 2015
Recordações do Café
Granada (*)
Desci
a Travessa do Pasteleiro e entrei na Rua da Esperança. Atravessei a avenida D.
Carlos I e, para facilitar, desci meia dúzia de degraus, entrei na estreita rua
dos Merca–Tudo e rapidamente cheguei ao Largo Conde Barão, onde os velhos
armazéns fervilhavam de gente que entrava, comprava e saía.
Segui
em frente passando ao lado dos eléctricos que vinham de São Paulo ou de Santos
e cujos guarda-freios faziam tilintar freneticamente as campainhas avisando os
menos atentos que circulavam pela rua para fugir aos passeios estreitos e
irregulares ou a atravessavam descuidadamente.
Rapidamente
cheguei à esplanada do Café Granada, nessa altura ainda com bastante gente
aproveitando o bom tempo, quase fora de época, a pacatez da reentrância do
edifício e a sombra das árvores grandes e frondosas. Procurei uma mesa livre e
sentei-me. Quase sem tempo para pedir o café ouvi uma voz atrás, noutra mesa,
dizendo-me:
-
Oh pá, colega, se quiseres senta-te aqui ao pé de nós.
Claro
que aceitei, era, vim a saber logo a seguir, o Fernando Nabais. Estava com o
seu companheiro de quarto alugado da rua Miguel Lupi, Luís Vieira a quem, vá-se
lá a saber porquê, chamavam também Luís Bagaço (com B grande porque o Luís merece
e o Bagaço também).
E
ali ficámos a saber quem tinha passado e quem tinha “chumbado”; quem tinha de
ir para a tropa ou quem ainda poderia aguentar mais tempo sem ser chamado para
a guerra como castigo por ter reprovado.
E
assim se foi fazendo o grupo do Café Granada: “Oh pá, senta-te aqui ao pé de
nós”.
A
falar no serviço militar, encontrei-me eu, uns tempos depois, tentando explicar
como estava Económicas a um loiraço que se sentou na minha mesa por me
reconhecer das aulas de Económicas. Era o Manel Valente acabado de chegar das
sua guerra colonial e cheio de coragem e de vontade para acabar rapidamente o
curso pois:
-
Eh pá, é João que te chamas não é, quero ver se acabo isto depressa
aproveitando o regime militar dos exames pois não posso passar muito tempo a
viver das poupanças que fiz na tropa.
Outro
Manel, o da tabacaria, aproveitava uma folguita na “freguesia” e vinha
juntar-se à nossa mesa com a tabacaria debaixo de olho. Trazia o tabaco às
mesas, bastava fazer-lhe um sinal que ele já conhecia as marcas que cada um
fumava. O Manel, que também lhe chamávamos Manel Marreco, neste caso sem ser
necessário averiguar porquê, “controlava” e ia saudando quem descia para a cave
para jogar bilhar.
O
Constantino, o nosso dedicado fornecedor de electricidade, garantia a luz no
Café e a iluminação nos bilhares, quase por favor, pois os seus clientes
preferidos eram bem maiores como a Feira Popular, a avenida da Liberdade em dia
de marchas ou o Estádio da Luz mas neste caso apenas a pedido expresso do Manel
Aires.
Ainda
conheci o Manel Aires fardado de militar da Força Aérea, tão orgulhoso da sua
farda e sobretudo do seu chapéu de pala de oficial, quanto, uns anitos a
seguir, do seu livro de Anatomia com o qual fazia pirraça aos estudantes de
livros pequenos de Económicos, ou dos futuros engenheiros Pedro Fidalgo e Luís
Barata ou dos cursantes de Letras como o Necas (“mas isso não é um curso para
meninas, perguntava gozando o Quim “Bocas”).
Do
seu chapéu de oficial até a senhora polícia ficava invejosa, talvez a primeira
mulher polícia em Portugal que frequentava à noite o café Granada. Que honra
para o Granada. Lembram-se?
O
Granada era centro de convívio, era local de estudo e era ponto de partida para
os “copos” e “farras”. O problema principal era o transporte porque só um ou
dois poderiam dispor de carro. O Manel Aires ia buscar o Mercedes do pai e
avisava que tinha lugar para cinco. Refilando mas tolerante acabava por levar
sete com o aviso claro:
-Aqui
à frente comigo, só vai um!
Por
vezes o saudoso Quim “Bocas” acabava por ir buscar o seu carrinho, que nem para
ir para o Diário de Notícias o levava e dava boleia a mais quatro. Como o
depósito estava quase sempre na reserva ele fazia uma pequena colecta para,
justificava-se ele com o seu enorme sentido de humor, não passar pela vergonha
de pedir ao senhor da “bomba” para pôr cinco escudos de gasolina e ele
perguntar-lhe:
-
É para o carro ou para o isqueiro?
E
com mais boleia, menos boleia lá íamos nós para o Alto de Santo Amaro comer
umas belas cadelinhas ou então para Porto Salvo provar uns túbaros de borrego
deliciosos. Mais habitual era subirmos a Calçada do Combro e irmos por volta da
meia-noite, após o fecho do Granada, até à Trindade, nos seus tempos de
cervejaria famosa e popular, beber uma imperiais ou só uma quem não tinha
dinheiro para mais. Havia os abonados que comiam o famoso “meio” bife, havia
quem encomendasse apenas a travessa de batatas fritas e as fosse passando pela
gratuita maionese para saberem melhor e darem a ideia de acompanhamento, havia
quem se entretinha apenas com os tremoços e havia quem conseguia ainda pedir um
croquete no qual, seguindo à risca as regras do Salvador “Babalu”, ia dando
umas pequenas trincadinhas, para durar mais tempo, sempre numa ponta coberta
com mostarda, também gratuita.
Não
sei se por ficarem com a barriga cheia, se por efeito das afrodisíacas mostarda
e maionese, houve dias em que alguém se lembrava de atravessar o Bairro Alto e
ir direito ao Barbarela, bar de homossexuais discreto e raro à época. Para o
que havia de dar a estes ilustres granadinos! O pior é que, a partir de
determinada altura, os “verdadeiros” se punham a andar, mal nos viam a entrar.
Sobretudo desde o dia em que um tal de Morgado ou de Botelho resolveu ir para o
meio da pista dançar e encabeçar um comboio de dançantes gritando
esganiçadamente para os outros:
-
Eu sou a máquina, eu sou a máquina, vocês vão todos atrás de mim.
Claro
que esta última história poderá provocar em alguém que não conheça bem este
grupo, a pergunta excelsa por que razão é um grupo de homens. Ora aí está uma
boa pergunta que eu, escrevinhador escolhido, remeto para todos os ilustres
granadinos.
Eu
sei que víamos a tal mulher polícia; mas ela, de facto, não fazia parte do
grupo e sempre nos olhou com ar de polícia.
É
verdade que por lá passava e sentava-se connosco a Tina, minha vizinha da
Madragoa. Mas era muito, mesmo muito passageiro e nem sei quais eram os mais
incomodados, se ela por ser a única mulher ou nós por sermos tantos homens à volta
duma só mulher.
Também
me lembro que quando, num certo Carnaval, foi organizado um casamento de
Carnaval, fomos obrigados a pedir voluntários homens para fazer de noiva e de
madrinhas.
Enfim
uma outra mulher que lá passava era uma dinamarquesa casada com o nosso colega
de grupo Palma que nem o parecia porque se gabava de não saber cozinhar em
frente a todos nós. E como ainda não dominava o português e trocava quase todos
os femininos com os masculinos, explicava para todos que lá em casa o Palma era
o único cozinheiro, do seguinte modo:
-
Lá em casa, c(u)ozinho é com ele! – querendo dizer que a cozinha era apenas com
o companheiro.
Enfim,
houve uma altura, que o grupo enfim ultrapassou esse bloqueio, quando duas
esbeltas raparigas, surgidas já não sei de onde, quase se integraram no grupo.
Mas o repúdio foi tal que foram quase marginalizadas e ficaram sempre entre o
grupo e não grupo. A tal ponto que o Manel Aires, já na altura fervoroso adepto
do Glorioso e conhecedor do nome de todos os jogadores, decretou:
-
Elas jogam bem pelas laterais e como tal passam a chamar-se Adolfo e Malta da
Silva.
Não
havia mesmo solução!
Tinha
ido apenas beber um café, lembram-se? Posso voltar a casa descansado. Tenho um
excelente grupo de amigos.
quarta-feira, 27 de maio de 2015
O Manuel da Tabacaria mais conhecido por Manuel Marreco.
O Manuel “Marreco” assim
intitulado devido à sua corcunda e reduzida estatura. Este não era oriundo do
Bairro da Madragoa, mas como era empregado da tabacaria anexa ao café granada
vou por isso, dedicar-lhe um espaço no Blogue.
O Manuel da tabacaria após uma
sardinhada na Charneca da Caparica na casa do pai do M. Aires
|
Costumava acompanhar-nos em
alguns jantares e festas que realizávamos. Nessas festas começávamos sempre por
músicas aceleradas, mais animadas, com ritmo mais rápido e passadas algumas
músicas, começavam as “bocas”, as observações,
“Então, isto nunca mais assenta”!
Era sinal que alguns queriam música
mais lenta, para dançar mais agarradinho à namorada. Depois de se ouvirem
várias vezes estas observações, o responsável pela música tinha mesmo que por
música mais lenta (quase para adormecer) e reduzir a iluminação da sala.
Numa dessas festas em que estava
já tudo “assente”, todos tinham par/namorada e a noite, a todos estava a correr
a bem, alguém com muita graça acentuou (o Quim Bocas):
“Hoje está uma óptima festa!
Nunca como hoje. Hoje até o Manuel da
tabacaria arranjou namorada”.
E era verdade, nessa noite até o
Manuel da tabacaria dançava (creio que era com a irmã).
Foi uma risota geral comentada
durante toda a noite.
Uma vez o Manuel da tabacaria foi
com o José de Barros (adepto do Futebol Clube do Porto) passar o S. João à
cidade invicta. Divertiram-se imenso durante a noite animada do S. João no
Porto, mas o Manuel da tabacaria no dia seguinte, quando chegou para o trabalho
foi despedido por ter faltado ao trabalho sem avisar. Depois de algum “choradinho”,
os irmãos Fonsecas, proprietários da tabacaria, lá acabaram por o desculpar e readmitir.
Posteriormente o Manuel da
tabacaria, creio que passou a ser empregado da Junta de Freguesia de Benfica
onde morava. Consta que alguns amigos ainda foram a sua casa comer uma saborosa
feijoada.
O Manuel da Tabacaria exibindo a sua corcunda na festa
comemorativa de final de curso de M. Valente, A. Nabais e J. Barros.
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27/05/2015
Manuel Valente
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