segunda-feira, 24 de novembro de 2014

O inadaptado


Outubro de 1966. Aterrei em Lisboa, mais propriamente na Miguel Lupi, com uma mala de roupa numa mão, umas moedas na outra e muitas dúvidas e receios na cabecinha. Oh! Como estava longe a terra do terceiro segredo ou a cidade da  loira encantada ou a vila do colégio da juventude!

Não foi fácil. Primeiro foi deambular pelo jardim, junto ao ISCEF. Pouco a pouco, conheci o café do velho Dâmaso e o círculo de amigos foi alargando. O Nabais trouxe vários: o Boavida, o puto Garcia... O Morgado também: o Barreto que aparece em algumas fotos e não consigo esquecer aquele Lemos que me acompanhou tantas vezes.

Gastava as tardes no Jardim Cinema a ver o Kirk Douglas, o Elvis e o Jerry Lewis. Graças a isso, o tempo foi passando e o horroroso impacto do Quelhas foi-se esvanecendo. Quando era para estudar, começámos a procurar um café. O Dâmaso, em cuja esplanada o Morgado viveu significativo episódio de irreverência à bandeira com patriótica reação do agente de serviço, era demasiado pequeno. Descobrimos o Gouveia onde o ambiente tendia para a peixeirada. Mas, um dia, o Nabais (ou teria sido o Garcia?), sempre inovador, veio com a novidade:

- Amigos, descobri um café porreiro. Chama-se Granada e é um pouco mais à frente de onde estamos.

O Granada esperava-nos ali mesmo ao virar a esquina. Claro que fiquei deslumbrado. E junto ao velho chafariz do jardim, pronunciei o juramento:

- Que se liche a água! O futuro está no bagaço…

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2 comentários:

  1. Belo texto que traduz de forma simples, mas com muito conteúdo, a forma com a a maioria dos Amigos do Café Granada chegaram a Lisboa e se introduziram na sociedade estundantil nos locais adjacentes ao ISCEF.

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  2. Boa Malha Luís..
    Quase não me recordava do nome da esplanada, embora tenha presente os problemas com a polícia

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